quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Safari a las Nubes [Salta - Jujuy]

     Contratamos esse passeio com a mesma agência que nos levou a Cafayate: Tastil. Por contratarmos 2 passeios e pagarmos em dinheiro vivo (efectivo), ganhamos um bom desconto. Na verdade, saiu praticamente um passeio inteiro de graça. Vale a pena levar dinheiro vivo e deixar o cartão de crédito pra outras coisas. Em Salta existem várias empresas que fazem esse passeio, mas nenhuma com o MoviTrack. Esse pitoresco caminhão leva 20 pessoas e ele tem uma abertura na frente, onde é possível ficar em pé e olhar pra fora por uma imensa janela. Sem contar que ele é mais alto e mais espaçoso que qualquer outra van. 

Aqui já era quase voltando. Já havíamos passado no rally no deserto, por isso a sujeira.

     O combinado era estar as 6:20h no escritório da empresa. Nosso hotel era pertinho da agência, e quando saímos ainda estava escuro. Não tinha ninguém nas ruas. Exceto os garis que varriam as ruas e calçadas. Como de costume com qualquer ônibus na Argentina, atrasou. Saímos por volta das 7h da manhã. O passeio do dia seria intenso. Eram 540 Km pra percorrer e estar de volta a Salta em torno das 21 h. O dia prometia! 

Trajeto da viagem: Linha verde e pontos coloridos.

     Quem dirigiu nosso MoviTrack foi o Roberto, divertidíssimo. E nosso guia foi o Ramiro, super gente boa, que nos explicou sobre cada pedaço de grama, em duas línguas (inglês e espanhol). Estávamos só meu marido e eu de brasileiros. Tinham 4 pessoas da Argentina, 4 da Holanda, 2 alemães e 5 norte-americanos. Pude praticar bastante meu espanglês e fazer novas amizades. 


     Saindo de Salta, ao longe, começamos a ver montanhas com gelo. Já estávamos emocionados, porque estávamos indo em direção àquelas montanhas. Logo o guia Ramiro nos disse que as montanhas que veríamos de pertinho não eram a Cordilheira dos Andes. Fazem parte da chamada Cordilheira Oriental, uma pré-cordilheira dos Andes. Entre elas ainda tem a puna (deserto de altitude, altiplano). Ambas ainda tem a diferença que os Andes são feitos de rocha vulcânica e possuem vulcões, enquanto a Cordilheira Oriental são apenas montanhas, não vulcões. Na Cordilheira Oriental vemos yungas, que são montanhas verdes, de selva. 
     Enquanto o guia explicava, íamos passando entre montanhas verdes. O dia estava nublado. Nessa primeira parte da viagem, acompanhamos por terra o caminho que o Tren a las Nubes faz por trilhos. Passamos por um viaduto, construído em 1921. 



    
     Ao lado da estrada passa um rio, que é formado por água que desce das montanhas. Os leitos dos rios são cheios de "gaviones", pedras que seguram a água para que não invadam a estrada, e ainda as vezes invadem (com tanta força que as bloqueiam). Se a água está forte, dá pra escutar vibrar o solo. O verão é o período das chuvas (nas montanhas), por isso os trens param suas atividades nesse período. Inclusive o Tren a las Nubes cessa seu funcionamento de dezembro a março, todos os anos, por causa do risco de bloqueio nos trilhos. 
     Ao longo do caminho, passamos por inúmeros cactos gigantes (em torno de 7 metros de altura), chamados Cardón passacana. Há inclusive um Parque Nacional del Cardones, mas fica pra outra direção (não chegamos a ir lá). O que a gente vê muito também nesse caminho são burros (jumentos) livres, sem donos. Vimos cabras também, nos morros. O mais interessante é que vivem sozinhos, sem ninguém cuidando.




     Paramos em uma antiga estação ferroviária chamada Chorillos, para o desayuno. Comemos medialunas e tomamos café. Momento de confraternizar e 'sacar fotos'. Ao lado dessa estação vimos trilhos por onde antes passava o Tren a las Nubes, mas que foram destruídos com a força da água que desce das montanhas. 

Hora do mate




     Saindo dali, passamos pela Quebrada de los Toros. Quebradas são rochas partidas ao meio a muuuuuuitos anos atrás, ainda na formação da Terra, e por onde hoje passa uma estrada no meio. Tínhamos vontade de fotografar todos os lados. Missão impossível! O negócio é se contentar em olhar e guardar na memória. 








Depois da Quebrada del Toro, começamos a subir uma serra sinuosa, que nos leva a Santa Rosa de Tastil. 
São 1500 metros de altitude acima. A medida que subimos, a temperatura foi caindo. 



Chegando na pequena Santa Rosa de Tastil, visitamos um museu e compramos artesanatos locais, bem como um casaco pra aguentar o frio que estava começando a fazer no alto da montanha.

Museu de Santa Rosa de Tastil




Pinturas rupestres encontradas nas redondezas de Santa Rosa de Tastil

     Saindo dali, subimos ainda mais a montanha, chegando 'pertinho' do Nevado de Acay, que possui 5800 mt de altitude sobre o nível do mar. Subimos mascando folhas de coca, para prevenir o mal das montanhas. Sabe que ajudou? Talvez porque não fizemos nenhum tipo de esforço, mas fui sentir o mal das montanhas somente mais tarde, quando caminhamos um pouco. Até então, tudo ok!

     Paramos em lugar muito alto e muito frio, para fotografar o Nevado de Acay o mais perto possível.



Mascando folhas de coca em toda a subida


As nuvens o estão encobrindo, mas ele está lá: o Nevado de Acay

Vegetação típica da alta montanha

     Seguimos viagem. Logo depois dessa parada, chegamos a San Antonio de los Cobres, uma cidadezinha  de 5000 habitantes, que vive da mineração, a 3770 metros acima do nível do mar. Descemos em frente a igreja principal e caminhamos um pouco. Foi nessa hora que senti o mal das montanhas, uma leve tontura (como se tivesse tomado 2 taças de vinho de estômago vazio). Fui a única coisa que senti. Segui as orientações do guia de não comer alimentos pesados no dia anterior e não correr ou pular durante a viagem. Poderia ter sido pior, mas foi só essa tontura mesmo. 
    A cidade é muito simples, tem chão batido e as pessoas aparentam ser muito pobres. Algumas senhoras rodearam nosso ônibus tentando vender artesanato. O que mais me chamou a atenção é que, enquanto algumas pessoas são muito pobres, alguns estudantes estavam sentados na mureta da Igreja com seus respectivos notebooks: cada um com o seu. Imagino que o governo deva dar esses notebooks a eles, mas nem aqui no Brasil, tão mais desenvolvido, temos esse tipo de benefício. No mínimo, uma situação curiosa.

Chegando em San Antonio de los Cobres

Na entrada da cidade, essa senhorinha já veio nos vender llaminhas.

Apesar de ser uma cidade simples, essa igreja é muito bem construída. Tudo feito com uma perfeição. Cada pedra muito bem encaixada. Os muros também são assim, muito bem acabados.

uma cabra solitária, solta pela cidade.

Senhorinha vendendo artesanato.

Alunos com seus notebooks. Me pergunto: será que nessa cidade simples e humilde, tem wi-fi disponível na praça prinicpal??

Assim como em todas as cidades argentinas, cães circulando livremente e dormindo onde bem entenderem.

     Saímos de San Antonio de los Cobres, seguindo em direção à puna (deserto de altitude, altiplano). Até a próxima parada, Salinas Grandes, são 90 Km. Noventa quilômetros no deserto. Campos abertos, a perder de vista, arbustos pequenos, eventualmente algumas vicuñas no caminho, alguns lagartinhos, estrada de chão e muito pó. Depois de um tempo, começa a ficar cansativo olhar sempre pra mesma paisagem, e começa a bater um soooonoo. Todos no ônibus dormiram. 
     Como a estrada é longa, em certos locais havia chovido, com isso, ficando alguns locais com água parada (água no deserto, que ironia!). Roberto dirigia com velocidade, tinha um itinerário a cumprir. Com isso, jorrava água suja nos vidros do MoviTrack. Me senti em um rally no deserto: barro e velocidade, com aquela paisagem linda de fundo. Demais!

Duas horas andando por essa paisagem, que não muda, causou sono em todo mundo.


Eventualmente, alguma casinha de adobe no meio do caminho.

Eventualmente, víamos vicuñas

Vegetação arbustiva florecendo nessa época do ano.

     Passando a puna, começamos a ver ao longe algo parecido com um lago, porque brilhava, semelhante a água. Então, chegamos a um dos lugares mais fantásticos que já tive a oportunidade de conhecer: Salinas Grandes. No noroeste argentino tem várias salinas, visitamos esta que tem 300 km² e faz parte de duas províncias: Salta e Jujuy. Esse deserto de sal está a 3400 mt de altitude, consequentemente, faz frio nesse lugar. No meio do salar, passa uma estrada, que vai a Paso de Jama, divisa com o Chile (a 168 Km de onde paramos). 
    Um pouco antes de estarmos ali, havia chovido, com isso, tinha uma camada de água sobre todo o salar, dando a impressão de ser um espelho gigante. Estava nublado quando chegamos. Mas de tão felizes que estávamos, tiramos os tênis e fomos para o meio do deserto para fotografar. 


Estrada que leva ao Chile


Desses lugares eles retiram blocos de sal que são manufaturados e vendidos. Além de fabricação de artesanato. Quando chove, enche de água e fica uma piscina enorme. A água ali é bem gelada. 

Estátua de sal

     O pessoal do MoviTrack levou almoço para o grupo. Como estava nublado, resolvemos comer e depois voltar pras salinas novamente. Almoçamos uma marmita com arroz à grega, ovo, tomate e frango grelhado. Delícia! Bem prático! Bebemos Seven Up e de sobremesa, salada de frutas. O mais legal é comer em lugar onde tudo ao seu redor é sal, inclusive as mesas e bancos. Meu marido experimentou um pedacinho e confirmou: é salgado mesmo!

Mesas e bancos feitos de sal

almoço

Depois do almoço ainda tínhamos um tempinho. Compramos recuerdos tradicionais das Salinas: estatuinhas de sal e placas de pedra esculpidas. Tudo muito barato!



     Aos poucos, o sol foi voltando e a necessidade de usar um bom óculos de sol, também. E nós, que já estávamos felizes antes, agora estávamos radiantes.






    Nos despedimos das Salinas e seguimos viagem. Ainda tínhamos uma longa estrada pela frente. Voltamos à puna, ainda tínhamos um trecho de viagem por ela. Logo depois, começamos a subir a montanha, chegando ao ponto mais alto da nossa viagem: 4170 metros de altitude sobre o nível do mar. Lá em cima, pausa pra foto e pra comprar recuerdos.

Subindo a montanha

Subindo a montanha


Subimos a montanha, chegamos no topo. Hora de descer! Pela RN 52, iniciamos a descida. São 2000 mt de altitude em 30 km. Ou seja, uma descida quase íngreme. Mais de 80 curvas pelo caminho. E lá fomos nós, ouvindo música andina, entre ela, a tradicional Carnavalito. Boas lembranças! 






No fim do trajeto de curvas, ao pé da montanha, quando as montanhas já começavam a ser coloridas (muito coloridas), nosso MoviTrack parou pra gente tirar umas fotos. Enquanto isso, Ramiro nos preparou um lanche especial: tábua de queijos e vinho branco geladinho. Gente, que cafuné na alma! Fizemos uma foto oficial, um brinde e uma confraternização maravilhosa!





começando a aparecer cores nas montanhas

Vegetação nativa



Cardón (cactos gigantes)

     Seguimos viagem mais uma vez. Já eram 16 h. Seguimos em direção à Purmamarca. Mais 15 minutos de viagem. No trajeto, lindíssimas paisagens.

do satélite, já dá pra ver como as montanhas são coloridas em Purmamarca



Chegando em Purmamarca, a surpresa e a imagem que encheria nossos olhos: Cierro de las Siete Colores. Gente, que lugar mais lindo! Emocionante ver de perto uma montanha com tantas cores! Impressionante! Não tem como colocar em fotos ou palavras o que é ver isso de perto. É o tipo de coisa que 'só quem vai sabe'. Mas ficam as fotos para registrar o momento!




     Logo na entrada da cidade, onde paramos para ver esse Cierro, tinha um lugar cheio de barracas. A princípio, pensamos que fosse um camping, ou algo do tipo. Ao entrar no centro da cidade, confirmamos nossas suspeitas: são barracas de mochileiros. Muitos! Inúmeros! Apelidamos Purmamarca de Capital Nacional dos Mochileiros, porque a quantidade de gente que fica nessa cidade é fora do comum. Vimos muitos mochileiros no noroeste argentino. No Brasil a gente quase não vê pessoas que carregam 20 quilos de coisas na mochila, incluindo barraca e colchonete,  ficam em qualquer lugar que tiver e viajam de carona. Lá tem essas pessoas! Muitas! É lindo de ver! Mas Purmamarca é campeã! Não sei exatamente o que atrai esses mochileiros pra lá. Talvez o clima de cidade de interior, a hospitalidade do povo. Não sei! Queria ter perguntado pra alguém, mas como ficamos pouquíssimo tempo lá, não tive essa oportunidade. 

     Purmamarca é uma cidade simples do interior, estilo velho oeste, com montanhas por todos os lados. Pra qualquer lado que se olhe, tem montanhas coloridas. QUALQUER LADO! É algo incrível! A praça principal, todos os dias, é tomada por vendedores de artesanato e hippies com seus violões, em grupos, cantando. Parecia ser outro mundo! No pouco tempo que tínhamos, caminhamos ao redor da praça, compramos recuerdos (como sempre), tiramos fotos das montanhas lindas ao redor... mas o mais legal aconteceu: vi llamas, domesticadas. Eu passei a viagem inteira procurando llamas. Queria muito pegar em uma delas, tirar fotos, afofar. Foi em Purmamarca que tive essa oportunidade. E o melhor: as llamas que estavam lá tinham uma filhote, branca, linda. Confesso que tive muuuuita vontade de levá-la pra casa. Aaaahhh se eu tivesse de carro!!

Praça rodeada de vendedores de artesanatos.



Llamas e sua filhote.

As llamas domesticadas possuem enfeites coloridos.

A alegria da pessoa


     Purmamarca foi nossa última parada dessa viagem linda do dia  17 de janeiro de 2014. Partindo dali, voltamos a Salta. Ainda passamos por lugares lindos, mas como é difícil tirar fotos boas em um ônibus andando!! 

última foto da viagem

    Nesse dia, acabamos com todas as baterias: das cameras e do nosso corpo! Foi um dia cansativo, mas extremamente bom. Conhecemos lugares incríveis e vivemos experiências únicas!
     Recomendo IMENSAMENTE esse passeio para quem estiver na região de Salta. Vale a pena mesmo!
Nós fomos de ônibus, com o guia explicado tudo. Mas mesmo tendo o mapa, acho complicado ir de carro, por passar tanto tempo no deserto. Me pareceu bastante fácil se perder na puna. Então, se você for de carro, certifique-se muito bem do caminho e abasteça o carro sempre que ver um posto de gasolina. Na verdade, eu não vi nenhum (mas creio que algum lugar deva ter).

     Espero que você tenha ficado com vontade de ir também ao Safari a las Nubes. Tenho certeza que vai curtir tanto quanto eu!