Hoje é o último dia do ano e não posso deixar passar em branco (literalmente).
Acabo de ler a coluna da Lia Luft na VEJA dessa semana, e compartilho com vocês, porque 'celebrar a vida é vital'.
FELIZ 2014!
E que venham muuitas viagens e muitas datas especiais pra comemorar!
"Não gosto de escrever sobre datas marcadas, mas às vezes acontece. Em cada virada de ano somos sacudidos por sentimentos positivos e negativos quanto a essas festas que para muitos são tormento. Vale a história do copo meio cheio ou meio vazio. Para alguns é um tempo de melancolia: choramos os que morreram, os que nos traíram, os que foram embora, os desejos frustrados, os sonhos perdidos, a fortuna dissipada, o emprego ruim, o salário pior ainda, a família pouco amorosa, a situação do país, do mundo, de tudo. Muitos acorrem aos consultórios de psicólogos e psiquiatras: haja curativo para nossa mágoa e autovitimização.
Se formos mais otimistas, encararemos o ano passado, a vida passada, o eu que já fomos como transições naturais. Não é preciso encarar a juventude, os primeiros sucessos, o começo de uma relação que já foi encantada, como perda irremediável: tudo continua com a gente. Em lugar de detestar estes dias, podemos inventar e até curtir qualquer celebração que reúna amigos ou família. Não é essencial ser religioso: se os sentimentos, a família, as amizades, a relação amorosa forem áridos, invocar Deus não vai adiantar. Mas celebrar é vital - e nada como algumas datas marcadas para lembrar que a vida não é apenas luta; é também a possível alegria. Não ser precisa ser com champanhe caro nem presentes que vão nos endividar pelo ano inteiro: basta algum gesto afetuoso verdadeiro, um calor humano que abrande aquelas feridas da alma que sempre temos.
Quanto aos projetos, é melhor evitar aquela lista de impossíveis. Importa cuidar da relação, ser mais gentil com os pais e menos crítico com os filhos, falar mais com os amigos, sair da redoma da amargura e abrir-se para o outro. Ser fiel, ser sincero, ser bondoso: a primeira coisa num namorado ou namorada, eu dizia sempre a meus filhos e hoje digo aos meus netos, é que seja uma boa pessoa, leal, gentil. O grosseiro é inadmissível. O ignorante é uma tristeza. O falso, cínico ou infiel, é bom manter longe. Mas, ainda que sem brilho, um bom amor, um bom amigo, um bom pai e mãe, um bom filho, fazem a festa.
O resto são castanhas e espumantes, ou - para quem não bebe - qualquer coisa que faça cócegas no coração. Que faça sorrir. Mesmo para os descrentes, nestes dias algo mágico circula por este mundo nem sempre bonito nem bom. Mas, se nosso projeto for o eterno perder 10 quilos, conseguir (isso não se consegue, acontece...) uma namorada gostosa ou um marido rico - ou, quem sabe, uma parceria carinhosa -ganhar na loteria, vingar-se dos desafetos e mostrar quem é o bom, é melhor esquecer: não valerão a pena a festa nem o ano novo, pois vai ser tudo mentira, oco e vazio.
Também é aconselhável deixar um segundo plano nestas a ideia de consertar o país: não vamos reinventar a democracia, a Justiça, a igualdade, a honradez e o bem estar geral. Não vamos evitar o desperdício de dinheiro nosso, o abandono dos flagelados, o horror das prisões, as falhas na Justiça, a violência, a insegurança, enfim, deixa pra lá.
Vale mandar um pensamento e, se for o caso, uma oração aos que vivem privações emocionais ou materiais, que trabalham além do humanamente suportável, que perderam o amor de sua vida ou um filho amado, que foram esquecidos e decepcionados, que nesta data não vão escutar nem uma voz cálida ao telefone. E, para as nossas dores pessoais inevitáveis, a gente inventa um metafórico curativo para que o coração se comova, o sorriso se abra, o abraço encerre aqueles a quem dedicamos - e nos dedicam - algum afeto verdadeiro. Repito que valem todos os projetos e afetos, banais ou ousados, mas possíveis. Podem ser pequenos, como um Band-Aid: apesar dos nossos defeitos, a boa vontade, a gentileza, a licença que daremos para agradecer o dom da vida hão de nos iluminar melhor do que as antigas velas ou as modernas luzinhas.
Vamos nos permitir, sobretudo, a alegria perdida no cansaço de tanta correria: Ela ainda existe: sabendo procurar, a gente a encontra."
Lia Luft (VEJA - 1º de janeiro de 2014)